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O cantor do silêncio

Pode-se ler, graças à inspiração de Julos Beaucarne, poeta e cantor francês, um texto de uma originalidade espantosa. Esse texto tem como título: O cantor do silêncio. Trata-se de um artista que se apresenta no palco et fica calado diante de “milheiros de espectadores que vieram para calarem-se com ele” e que, após duas horas, saem “compenetrados do seu silêncio”. Esse artista tinha-lhes comunicado a beleza do silêncio coletivo. (Julos Beaucarne, Mon terroir, c'est les galaxies).

O grande silencioso dos evangelhos

Calando o que teria ajudado a representar-se o personagem de José e fornecer uns índices da sua personalidade, os evangelistas conformaram-se à um traço duplo do caráter dele: um homem de silêncio e contemplação.

Embora o nome de José seja citado 14 vezes nos relatos evangélicos, nenhuma palavra textual, vindo dele, nos foi transmitida.

Maria, sua esposa, também faz parte desses seres silenciosos, porém umas frases breves foram recolhidas. Frases repletas de sentido e história. Mas José, nunca abre os lábios. Tudo deixa pensar que ele era invadido pelo mistério e que, assim como Maria, guardava todas essas coisas no seu coração para melhor contemplá-las. (Luc 2, 51).

Era seu jeito próprio de sondar a profundeza das mesmas. Isso não vem diminuir seu papel no seio da família de Nazaré. Ele deve ter intervindo em tempo e lugar certos através de uma palavra percussora.

Mas o fato que os autores sagrados tenham-nos apresentado um José silencioso, focaliza a grandeza do seu silêncio e isso nas circunstâncias em que muitos outros teriam tomado a palavra.

Todavia, seu silêncio não deixa de mexer conosco pois estamos vivendo numa cultura de música, palavras e barulho. No entanto, o silêncio de José pode ensinar-nos muita coisa.

A lição do silêncio de José

A atitude de José pode ensinar-nos a satisfação e a nobreza do segredo bem guardado. Pode ensinar-nos a contemplação das belezas interiores que nos habitam. Pode ensinar-nos a humildade que nos faz dobrar os joelhos diante do recém-nascido que dorme na madrugada da sua vida ou diante do idoso sentado na sua poltrona como na espera do Dia que vem. Enfim, pode ensinar-nos a abrirmos os ouvidos do coração para melhor ouvir o murmúrio inefável do Espírito que geme em nossas profundezas (Rom. 8, 26).Por isso, não hesitemos a invocar José sob o lindo título de CANTOR DO SILÊNCIO.


Peçamos-lhe de ensinar-nos não a calar a voz mas sim a silenciar para, em seguida, dizer melhor seu Filho e assim melhor proclamar sua Palavra.

José, cantor do silêncio,
Ensina-nos a esperar suavemente
A vinda de Jesus no coração de nossas noites
Como no deserto de nossos dias.
José, cantor do silêncio,
Ensina-nos a murmurar o nome do Pai.
Que sua graça nos encontre
No profundo de nossos amores
E de nossas solidões humanas. Amém!

Ghislaine Salvail, sjsh

 


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